É interessante procurarmos círculos na figura, pois aí podemos obter mais informações sobre os ângulos. Como encontrar circunferências no meio do nosso problema? Uma maneira é encontrarmos algum ponto equidistante no meio do problema. De fato, se existe um ponto equidistante a outros, então existe um circunferência passando por esses outros pontos com centro .
Dois pontos e sobre uma circunferência formam dois arcos. Se não for o diâmetro, teremos um arco maior e um menor.
A medida do arco pode ser denotada por ou .
Outra maneira de nos referirmos a um arco é considerarmos as suas "pontas" e um ponto no seu interior. Por exemplo, considere a figura a seguir
Podemos nos referir ao arco vermelho da figura acima como sendo o arco que passa por ou ainda o arco .
Seja o centro de uma circunferência e e dois pontos sobre esta. Então é chamado de ângulo central.
Aqui, por definição, a medida em graus do arco menor é a medida do ângulo . E a medida do arco maior ? Se o arco menor medir , então o menor mede .
Proposição[]
Cordas de mesma medida determinam arcos de mesma medida e vice-versa.
Ângulo Inscrito[]
Na figura, o ângulo é chamado de ângulo inscrito.
.
Podemos dizer então que a medida do ângulo central é o dobro da medida do ângulo inscrito.
Neste caso, o arco que não contem é chamado de arco correspondente ao ângulo inscrito .
Também podemos dizer que o ângulo subtende o arco . Em alguns lugares, dizemos que ele "enxerga" ou "olha" o arco.
Por isso, podemos falar da última de outra maneira: "um arco possui o dobro da medida do ângulo que o subtende".
Ângulo Excêntrico Interior[]
Na figura ao lado, o ângulo é chamado de ângulo excêntrico interior.
Vale o seguinte:
.
Ângulo Excêntrico Exterior[]
Na figura ao lado, o ângulo é chamado de ângulo excêntrico exterior (ou ângulo secante).
Vale o seguinte:
E se as retas forem tangentes?
Na figura,
Ângulo de Segmento[]
Possui o vértice na circunferência, um lado tangente e um secante. Por exemplo, na figura a seguir, é tangente e é secante.
A medida de um ângulo de segmento é igual à metade da do arco correspondente. Ou seja,
Exemplo[]
Na figura a seguir, é paralela a . Prove que .
Solução: Seja . Então , onde é indicado na figura a seguir.
Como é ângulo de segmento, segue que o arco mede e assim . Portanto, o triângulo é isósceles e assim .
Exemplo[]
Considere um triângulo e uma circunferência passando por ele. Se é um ponto externo a circunferência do mesmo lado que em relação à reta , prove que se então é tangente ao circuncírculo de .
Solução: Se não fosse tangente, tome tangente. Então . Como é paralelo a , segue que . Assim . Absurdo. Logo é tangente ao circuncírculo de .
Definição[]
Sejam e pontos de uma circunferência. Diremos que é ponto médio do arco quando .
Proposição[]
Sejam e pontos em uma circunferência. Então ponto médio do arco se, e somente se, .
Proposição[]
Sejam , e pontos na circunferência. Então se, e somente se, é o diâmetro.
Exemplo[]
Na figura, prove que
Solução: Consideremos o centro da circunferência, e . Desta forma, e . Além disso, de onde segue que os triângulos e são isósceles de bases e , respectivamente. Com isso, e .
Assim,
Portanto,
Exemplo[]
Sejam , e pontos na circunferência. Se é o ponto médio do arco que contém e o ponto médio do arco que não contém , prove que é o diâmetro da circunferência.
Solução:
Basta provarmos que . Considere a medida do arco que contem . Desta forma, a medida do arco que não contem será . Com isso, e . Portanto,
.
Exemplo[]
(i) Mostre que pertence ao interior de um círculo de diâmetro se, e somente se, .
(ii) Mostre que pertence ao exterior de um círculo de diâmetro se, e somente se, .
Solução: Comecemos mostrando que se pertence ao interior de um círculo de diâmetro , então . Sejam e os pontos de encontro de e com a circunferência, respectivamente (diferentes de e , respectivamente). Como
é excêntrico interior:
Pelo mesmo raciocínio, podemos ver que se pertence ao exterior de um círculo de diâmetro , então . As contrapositivas destas duas afirmações equivalem às recíprocas dos itens (i) e (ii).
Proposição[]
Se dois ângulos "enxergam" o mesmo arco, então eles possuem a mesma medida.
Proposição[]
Sejam , , e pontos sob uma circunferência. Então
Proposição[]
Sejam , , e quatro pontos distintos em uma circunferência (nesta ordem, se lidos em sentido horário ou anti-horário). Então se, e somente se, é paralelo a .
Prova:
Observe que
Exemplo (OBM 2012 - 3ª Fase - Nível 2)[]
A figura abaixo mostra um pentágono regular inscrito em um triângulo equilátero . Determine a medida do ângulo .
Solução: Este é um problema onde não aparece uma circunferência propriamente dita. Mas se encontrarmos alguma, podemos aproveitar as suas propriedades.
Sabemos que os ângulos de um pentágono regular são iguais a , enquanto os de um triângulo equilátero são . Observe que
.
Com isso, se descobrirmos as medidas de , e , podemos calcular a de . Já sabemos que . Resta calcularmos os outros dois.
Vamos achar mais informações sobre a figura. Calculemos os ângulos que ainda não conhecemos. Sabemos que . Pela simetria, . Daqui, podemos concluir que é um triângulo equilátero, o que nos dá coisas importantes. Note que e se combinarmos com o fato de que é equilátero, será um ponto equidistante de , e . Com isso, conseguiremos a circunferência e assim aproveitaremos as suas propriedades.
Observe que . Além disso, por ser um ângulo inscrito, . Calculemos . Observe que e o triângulo é isósceles. Assim, . Analogamente, . Com isso, já que , segue que .
Assim, e . Com isso,
.
Exemplo (Cone Sul 1993)[]
Considere um círculo com centro , e três pontos sob a circunferência, , e , tais que . Seja o ponto médio do arco que contém o ponto . Considere um ponto sob tal que é perpendicular a . Prove que .
Solução: Provar que a soma das medidas de dois segmentos é igual à medida de um terceiro é bem mais fácil quando os pontos são colineares. Será que conseguimos "arrastar" as medidas , e para a mesma reta?
Observe que e estão sobre a mesma reta. Então é mais vantajoso se conseguíssemos uma reta paralela à . E já que queremos transferir medidas, que tal uma paralela à e com medida igual a ?
Vamos chamar esta nova reta de (onde, por convenção, está entre e quando lermos no sentido anti-horário). Precisamos construí-la de forma que seja paralelo a e (o que é equivalente a dizer que é paralelo à ).
Como podemos construir estes pontos? Veremos a construção depois de pronta e quais propriedades elas apresentam. Depois veremos se estas propriedades são suficientes para satisfazer todas as condições que queremos. Se estas propriedades nos ajudam a desenhar bem e são suficientes, então conseguiremos fazer a construção. Vejamos isto na prática.
Que tal explorarmos os arcos? Com um pouco de exploração podemos ver que é o ponto médio do arco que não contém . De fato, precisamos provar que . Existe alguma igualdade de arcos que pode nos ajudar? Sim. Observe que, como é paralelo a , segue que . Com isso, precisamor provar que . Como
e
,
precisamos mostrar que . Mas isto segue do fato de que e são paralelos. Logo, é o ponto médio do arco que não contém . Deste modo, é o diâmetro da circunferência. Com isso, já sabemos construir (basta prolongarmos até encontrarmos a circunferência novamente).
E para construirmos ? Queremos que seja paralelo a BC. Assim, basta passarmos uma reta paralela a passando por . Chamaremos o outro ponto de intersecção de .Repare que se construirmos E e F desta maneira, será paralelo a e terá a mesma medida que .
Vamos arrastar a medida de para esta reta: estendamos de tal forma que fique entre e e seja igual a . Qual a vantagem de fazermos isto? "Jogamos" as medidas e para a mesma reta. Então
Com isso, basta mostrarmos que para resolvermos o problema. Uma maneira de fazermos isto é descobrirmos alguma congruência que envolva e . Vamos aproveitar a nossa construção: fizermos e serem paralelos: conseguimos ângulos de mesma medida. Mas quais deles pegar? Vamos pegar triângulos em que temos duas vantagens: o paralelismo e o fato deles enxergarem o mesmo arco.
Note que , e são colineares, pois e são ambas retas perpendiculares a e passam por (logo coincidem).
Observe que os ângulos e enxergam o mesmo lado e assim possuem mesma medida. Será que e são congruentes? Aproveitemos o paralelismo. Como e e são paralelos, segue que é um paralelogramo e assim e são paralelos. Desta forma, . Provemos agora alguma igualdade entre os lados.
Mostraremos que . Para isto, basta mostrarmos que . Observe que
e
Assim, para mostrarmos que , basta vermos que , o que equivale a dizer que . Mas isto é verdade, pois e são paralelos. Logo, .
Portanto os triângulos e são congruentes pelo caso , de onde segue que .
Exemplo (IMO 1993)[]
Seja um ponto no interior do triângulo tal que e .
(a) Calcule a razão .
(b) Prove que as tangentes por aos circuncírculos dos triângulos e são perpendiculares.
Solução:
(a) O primeiro problema aqui é: como vamos usar as informações do enunciado? Em primeiro lugar, ele deu . Com essa igualdade de multiplicações, conseguimos uma igualdade entre razões. Será que delas conseguimos uma semelhança de triângulos? Observe que dessa igualdade, conseguimos:
Essa igualdade nos daria uma semelhança se tivéssemos . Não temos isso, mas o enunciado nos dá algo parecido: (afinal radianos é igual a ). Parece então que podemos forçar essa semelhança acontecer. Vamos dividir em duas partes: uma com medida e outra com .
Para isso, tomemos um ponto no interior do ângulo de forma que (e como , podemos concluir que ). Isso quase nos dá uma semelhança entre os triângulos e . O que mais precisamos para essa semelhança ser válida? Uma coisa seria
Como já temos , precisamos então de . Portanto, já temos o ponto definido: de forma que e sejam perpendiculares e . Desta forma, será verdadeira e com isso os triângulos e são semelhantes.
Por isso,
Esses dois ângulos iguais nos fazem suspeitar da semelhança entre e . A questão é: será que essa semelhança vale a pena? Observe que o triângulo possui dois lados da igualdade que queremos provar: e . Já o triângulo possui um dos lados . Só teríamos um lado faltando: . Mas observe que se aplicarmos o teorema de Pitágoras no triângulo e lembrarmos que , teremos .
Portanto, vale procurar provar que e são semelhantes. Observe que parte desses lados são dos triângulos e que já sabemos ser semelhantes. Por isso,
.
Se combinarmos isso com o fato de que , concluímos que e são semelhantes pelo caso . Desta forma,
Por ,
(b) Sejam e pontos nos interiores de e , respectivamente, de forma que e sejam tangentes a e , respectivamente. Queremos provar que . Agora observe que
Como é tangente e é secante, segue que é um ângulo de segmento. Assim . Da mesma forma, podemos concluir que . Desta forma,
Se olharmos para , a soma dos seus ângulos será (afinal ele é formado por dois triângulos) e consequentemente, se , o ângulo correspondente a que está no interior de mede . Desta forma,