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Existem dois tipos de simetria: aquela com relação ao ponto e a com relação à reta.

Simetria de um Ponto em Relação a um Ponto[]

Seja , e três pontos. Dizemos que é simétrico de com relação ao ponto  quando for o ponto médio de .

Simétrico em relação a ponto

Exemplo[]

Sejam , e pontos não colineares, e simétricos de e com relação a , respectivamente. Prove que o quadrilátero formado por , , e é um paralelogramo.

Exemplo 1

Solução: Observe que e (pela definição de simétrico). Desta forma, as diagonais de do quadrilátero se encontram nos seus pontos médios, de onde segue que ele é um paralelogramo.

Exemplo (OBM 2014 - 3ª Fase - Nível 3)[]

Seja um quadrilátero convexo e seja a interseção das diagonais e . Os raios dos círculos inscritos nos triângulos , , e são iguais. Prove que é um losango.

Solução: Algo que pode chamar a nossa atenção quando lemos esse problema pela primeira vez é: como a gente pode usar os inraios aqui? Uma maneira é lembrarmos que conseguimos calcular a área de um triângulo usando o inraio: ela é o produto do semiperímetro pelo inraio. Mas seria mais legal se as áreas desses triângulos fossem iguais, afinal poderíamos igualar as coisas. Qual é o quadrilátero que é dividido em quatro triângulos de mesma área? O paralelogramo.

Por isso, vale a pena procurarmos começar mostrando que é um paralelogramo. Como fazer isso? Uma maneira é mostrar que as suas diagonais se encontram nos seus pontos médios. Vamos começar mostrando que . Suponha, por absurdo, que isso não ocorra. Então um deles é maior do que o outro. Podemos supor, sem perda de generalidade, que .

Seria legal se pudéssemos aproximar as medidas e de alguma forma. Uma maneira que podemos fazer isso é usar os simétricos. Como essas medidas estão "opostas" em relação a , vamos considerar e os simétricos de e com relação a , respectivamente. Mas aí surge a pergunta: onde ficam e na figura? Como (já que ), segue que está entre e . Da mesma forma, como (já que ), segue que está entre e .

Já que estamos procurando um absurdo aqui, vale a pena considerar outros simétricos e ver onde eles estão. Seja o simétrico de em relação a . Sabemos que ele está na semirreta . E o que mais podemos falar sobre ele? Observe que ainda não usamos o fato de que os círculos são tangente. Vamos considerar , , e os incírculos de , , e , respectivamente.

OBM2014n3q12

Vamos explorar um pouco mais sobre usando essas tangentes. Como é tangente a , parece que é tangente a . Será que isso é verdade? Veremos que sim. Para provarmos isso, é suficiente mostrarmos que o incírculo de é . Como os triângulos e são congruentes segue que os raios das suas circunferências inscritas são iguais. Além disso, o enunciado nos diz que e possuem o mesmo inraio. Por isso, possui o mesmo inraio que . Basta mostrarmos que os seus incentros são os mesmos. Note que ambos os incentros estão à mesma distância de e (que no caso, é dada pelo inraio). Vamos chamar de . Por isso, eles estão na intersecção entre duas retas paralelas a e com distância de cada uma delas. Como esse ponto de encontro é único, existe apenas um único lugar para os incentros de e . Desta forma, eles coincidem. Por isso, é tangente a .

Podemos usar essa ideia para responder onde está ? Se estivesse no segmento , teríamos uma configuração conforme a figura a seguir:

OBM2014n3q13


Mas isso não pode ocorrer, pois uma mesma circunferência não poderia ser tangente aos segmentos e e estar no interior de . Desta forma, não pode estar no segmento , ou seja, deve ser maior do que e assim (já que, pela definição de simétrico, ).

Podemos usar agora o mesmo argumento para e chegar a um absurdo. De fato, e são tangentes a (podemos provar essa última tangência de modo análogo ao que fizemos para provar que é tangente a ). Mas e , o que nos dá a seguinte configuração:

OBM2014n3q14

Isso não pode acontecer (pelo mesmo raciocínio que fizemos anteriormente). Desta forma, . De modo análogo, podemos provar que . Agora sim, podemos usar as nossas ideias iniciais, afinal, as diagonais de se encontram nos seus pontos médios e assim é um paralelogramo. Como as diagonais de um paralelogramo o dividem em quatro triângulos de mesma área, segue que . Para podemos usar o inraio, vamos lembrar que a área do triângulo é o produto do semiperímetro pelo inraio (que já chamamos de aqui) e assim:

Por , podemos concluir que

Se usarmos o mesmo raciocínio para os outros triângulos, podemos concluir que , ou seja, é um losango.

Simetria de um Ponto em Relação à uma Reta[]

Dizemos que os pontos e são simétricos com relação à reta quando for perpendicular à e passa pelo ponto médio de .

Simétrico em relação a reta

Observação[]

Um ponto pertence a uma reta se, e somente se, ele for simétrico dele mesmo.

Proposição[]

Se e são simétricos com relação à reta , então todo ponto de é equidistante à e .

Propriedade 1 do simétrico em relação à reta

Proposição[]

Sejam um ponto e uma reta. Se é o simétrico de em relação a . Então .

Prova: Seja o ponto de encontro entre e . Observe que , e é lado comum entre os triângulos e . Desta forma, esses triângulos são congruentes pelo caso . Assim .

Proposição[]

Sejam e pontos, uma reta e e os simétricos de e em relação a . Então .

Prova: Vamos dividir em casos:

(i) e estão no mesmo lado de

Se é paralelo a , então é um retângulo e com isso .

Caso contrário, suponha, sem perda de generalidade, que esteja mais próximo de do que . Tomemos e os pontos de intersecção de com e , respectivamente. Por uma proposição anterior, , de onde segue que (já que ).

Sabemos que e . Com isso, os triângulos e são semelhantes pelo caso . Desta maneira, .

(ii) e estão em lados opostos de

Notemos que e são inversos de e , respectivamente, além desses dois últimos pontos estarem do mesmo lado da reta. Assim . Além disso é trapézio isósceles (já que é paralelo a ) e com isso . Se juntarmos isso com o fato de que e possuem como lado comum, segue que esses dois triângulos são congruentes pelo caso e assim .

Proposição[]

Sejam , e não colineares e uma reta . Se , e são os simétricos de , e em relação a , respectivamente, então .

Prova: Por uma proposição anterior, , e . Desta maneira, e são congruentes pelo caso e assim .

Exemplo (OBM 2001 - 3ª Fase - Nível 2)[]

Uma folha de papel retangular , de área , é dobrada em sua diagonal e, em seguida, desdobrada; depois é dobrada de forma que o vértice coincida com o vértice e, em seguida, desdobrada, deixando o vinco , conforme o desenho.

OBM2001n2

(a) Mostre que o quadrilátero é um losango.

Dica:
Por causa da dobra, e . Se o ponto de encontro entre e , prove que e são congruentes.

(b) Se a diagonal é o dobro da largura , qual é a área do losango ?

Dica:
Mostre que se traçarmos os segmentos e , dividiremos em triângulos congruentes e, portanto, de mesma área

Solução:

(a) Por causa da dobra, e são simétricos com relação à , de onde segue que e . Se provarmos que , teremos que o quadrilátero é um losango. Vamos encontrar uma congruência que envolva e .

Considere o ponto de encontro entre e . Observe que e e são perpendiculares (por causa da simetria). Além disso, como e são paralelos, segue que . Desta forma, os triângulos e são congruentes pelo caso .

Com isso, , de onde segue que é um losango.

(b) Mostraremos que, se traçarmos os segmentos e , dividiremos em triângulos congruentes e, portanto, de mesma área. Sabemos que as diagonais de um triângulo dividem-o em quatro triângulos congruentes. Logo, os triângulos , , e são congruentes entre si.

Provemos que e são congruentes. Sabemos que é um lado em comum entre os dois triângulos. Como as diaginais de um losango são congruentes, . Mas . Além disso, se usarmos a hipótese e que é o ponto médio de , segue que . Desta maneira, e são congruentes (pelo caso ). 

Analogamente, podemos provar que e são congruentes.  Com isso, e dividem em triângulos congruentes e é constituída de destes triângulos. Com isso, .

Exemplo (OBM 2002 - 3ª Fase - Nível 2)[]

No desenho, a reta é perpendicular ao segmento e passa pelo seu ponto médio . Dizemos que é o simétrico de em relação à reta (ou em relação ao segmento ).

OBM2002q1

Seja um triângulo retângulo de área . Considere o triângulo tal que é simétrico de em relação ao lado , é o simétrico de em relação a e é simétrico de em relação ao lado . Calcule a área do triângulo .

Dica:
Uma das formas de trabalharmos com a área de um triângulo é com base e altura. Relacione a altura relativa a do triângulo com a altura relativa a do triângulo .

Solução: Uma maneira de trabalharmos com áreas é mexermos com a base a altura de um triângulo. Tomaremos o lado e a altura relativa a este lado. Seja o ponto de intersecção da altura com este lado.

Obm2002q1

O que seria bacana aqui é se a altura relativa a do triângulo passasse por cima da altura relativa a do triângulo , pois aí poderíamos comparar uma área com a outra. Tudo isso ficaria mais fácil se também fosse perpendicular a . Para isto, basta provarmos que é paralelo a .

Repare que é ponto médio de e de . Logo, o quadrilátero é tal que as suas diagonais se encontram no seu ponto médio, de onde segue que ele é um paralelogramo. Assim, é paralelo a .

Outra coisa: passa por . Como ver isso? Observe que é perpendicular a e passa por . Além disso é perpendicular a (pela definição de simétrico) e passa por . Como a reta perpendicular a que passa por é única, segue que coincide com ,  ou seja, , e são colineares.

Considere o ponto de encontro de com . Observe que é altura de relativa a . Se fizermos e , então a área de (que o enunciado diz que é ) é dada por .

Conseguimos encontrar alguma base e altura de em função de e ? Note que . Vamos descobrir a medida de em função de . Sabemos que e que . Resta descobrirmos e em função de .

Como e são congruentes, suas alturas possuem mesmas medidas e assim . Além disso, como é simétrico a com relação a , segue que .

Desta forma, . Portanto,

.

Simetria de um Objeto em Relação à uma Reta[]

Sejam uma figura e . O conjunto das reflexões de todos pontos de em relação a é chamado de simétrico de com relação a (ou simétrico de sobre ) e denotado por .

Simétrico de uma figura em relação à uma reta

Simetria de uma Reta em Relação à uma Reta[]

(a) Se e são retas paralelas e é o simétrico de em relação a , então é paralelo a .

Simétrico em relação à reta 2

(b) Se e são retas concorrentes e é o simétrico de em relação a , então o ângulo agudo entre e coincide com o agudo entre e .

Simétrico de uma reta concorrente

Proposição[]

Se é bissetriz do ângulo , então as retas e são simétricas em relação a .

Simetria de paralelas pela bissetriz[]

Considere o triângulo . Seja uma reta paralela a e seja a reta simétrica de em relação à bissetriz interna de . intersecta e em e . Então é cíclico.

Observação: O inverso também vale: se e estão em e de forma que é cíclico e é a reta simétrica a em relação à bissetriz interna de , então é paralela a .

Refletir pela Bissetriz

Simetria com retas perpendiculares[]

Se e são retas perpendiculares eé uma reta qualquer, as retas simétricas de em relação a e são paralelas.

Refletir por Retas Perpendiculares

Exemplo (OBM 2008 - 3ª Fase - Nível 3)[]

Seja um quadrilátero cíclico e e as retas simétricas à reta em relação às bissetrizes internas dos ângulos e , respectivamente, Sendo a interseção de e e o centro do círculo circunscrito a , prove que é perpendicular a .

Solução: Sabemos que a mediatriz da corda passa pelo ponto . Desta forma, se provarmos que também pertence à mediatriz de , então coincidirá com esta mediatriz e provaremos justamente o que o enunciado quer.

Vamos explorar um pouco mais as bissetrizes. Observe que elas se encontram no ponto médio do arco que não contém e nem . De fato, seja este ponto. Então e . Como você pode encontrar no artigo sobre incentro, o ponto médio do arco é equidistante a e e com isso, pertence à sua mediatriz. Desta forma, é mediatriz de .

Se provarmos que , e são colineares, então coincidirá com , ou seja, também será mediatriz de nos dando justamente o que o enunciado pede.

OBM2008q4n3

Observe que ainda não usamos que e são simétricas à reta em relação às bissetrizes internas dos ângulos e , respectivamente. Considere um ponto sobre tal que está entre e e um ponto sobre tal que está entre e . Por causa da simetria, e .

Com isso, e são bissetrizes externas do triângulo em relação aos vértices e , respectivamente. Desta forma, é o ponto médio do triângulo relativo a e assim é bissetriz do ângulo . Resta provarmos que pertence à bissetriz de .

Vamos considerar o incentro do triângulo . Qual a vantagem disso? Como as bissetrizes interna e externa são perpendiculares entre si, segue que e assim o quadrilátero é inscritível. Como , e são colineares, se provarmos que , e são colineares, poderemos concluir que , e também são. Porém é o diâmetro do circuncírculo de e assim ele passa pelo centro . Portanto, , e são colineares.

OBM2008q4n31

Exemplo (OBM 2012 - 3ª Fase - Nível 2)[]

Seja um triângulo, o ponto médio do lado e o ponto médio do lado . Sejam e as reflexões das retas e sobre a reta , respectivamente. Defina também e como a interseção das retas e com a reta , respectivamente. Sejam e os pontos de interseção entre os circuncírculos dos triângulos e , a interseção das retas e e a interseção entre as retas e . Prove que , e são concorrentes.

Solução:

OBM2012q3n2

Vamos definir o ponto de encontro entre e e o ponto de encontro entre e . A estratégia aqui é provar que e coincidem (isto já é suficiente para podermos concluir que , e são concorrentes).

Antes de montarmos uma estratégia, vamos usar as informações do enunciado que ainda não usamos. Sabemos que e são reflexões das retas e sobre a reta , respectivamente.

Para podermos usar isto, façamos

.

Como uma reta e sua simétrica possuem o mesmo ângulo em relação à reta que fazemos a reflexão, segue que e .

Ainda não usamos que e são pontos médios dos lados e . Estes fatos nos darão que é base média e assim paralela a . Por isso, podemos ganhar a medida de outros ângulos: e (pois eles são correspondentes) e e (pois eles são alternos internos).

Com essas medidas, ganhamos dois triângulos isósceles com essa figura: e . E qual a vantagem disso? Esses são os triângulos dos quais temos os circuncírculos. Sejam e os circuncírculos dos triângulos e . Além disso, definamos e os centros destes círculos, respectivamente.

Vamos observar o circuncírculo de . Como , segue que é perpendicular a . Mas este último é paralelo a . Logo, também é perpendicular a . Desta forma, é tangente a . Analogamente, também é tangente a .

OBM2012q3n22

Vamos relacionar e .

OBM2012q3n21

Para isso, podemos aproveitar as circunferências. Como e são tangentes à e , segue que

.

Se compararmos estas últimas igualdades,

,

de onde segue que é ponto médio de .

Se provarmos que também é ponto médio de , isso mostrará que e que é justamente o que queremos provar. Comparemos e com outras medidas do triângulos, para ver o conseguimos obter. Considere o ponto de encontro entre e .

Como e são paralelos, segue que e são semelhantes. Assim,

Além disso, e são paralelos, de onde segue que e são paralelos e assim

Se compararmos com ,

Para provarmos que , basta mostrarmos que . Como podemos relacionar e ? Observe que , e concorrem em . Desta forma, e podem aparecer se usarmos o Teorema de Ceva:

Conseguimos relacionar e em formas de razão? Observe que e </math>BC</math> são paralelos, de onde segue que

Se substituirmos em :

.

Com isso, , ou seja, também é ponto médio de , que é exatamente o que queríamos provar.

Como Usar Simetria a Seu Favor?[]

  • Sejam , , , e pontos tais que e são simétricos a e (respectivamente) com relação a . Então se, e somente se, .
  • Podemos transferir medidas de um lugar para o outro (já que a simetria costuma manter medidas).
  • A simetria pode servir para aproximarmos medidas que queremos relacionar.
  • Quando queremos mostrar que duas medidas são iguais e elas são simétricas em relação a um objeto.

Exemplo (OBM 2001 - 3ª Fase - Níveis 2 e 3)[]

Em um quadrilátero convexo, a altura em relação a um lado é definida como a perpendicular a esse lado passando pelo ponto médio do lado oposto. Prove que as quatro alturas têm um ponto comum se e somente se o quadrilátero é inscritível, isto é, se e somente se existe uma circunferência que contém seus quatro vértices.

Solução: Podemos nos basear no fato de que um quadrilátero é inscritível se, e somente se, as mediatrizes dos quatro lados têm um único ponto em comum (você pode encontrar esta prova aqui ).

Vamos nomear alguns pontos da figura. Considere o quadrilátero, , , e pontos médios de , , e , respectivamente (é bom nomearmos os pontos médios, já que precisamos deles para traçar as alturas). Seja a intersecção entre e .

OBM2001q5''

A estratégia será a seguinte: consideraremos o ponto de encontro das mediatrizes de e , enquanto será o ponto de encontro das mediatrizes de e . Pelo resultado que escrevemos no começo da solução, é inscritível se, e somente se, e coincidem. Tomemos e os simétricos de e com relação a .Observe que coincide com se, e somente se, coincide com . Com isso, é inscritível se, e somente se, coincide com . Se provarmos que é o ponto de encontro das alturas relativas a e , enquanto relativas a e , então o exercício estará resolvido.

Foquemos em mostrar que é o ponto de encontro das alturas relativas a e , pois o outro caso é análogo. Comecemos mostrando que é perpendicular a . Observe que é perpendicular a (pois pertence a mediatriz de e é o ponto médio desse segmento). Logo, basta mostrarmos que é paralelo a

Como provar um paralelismo? Uma boa ideia é se aproveitar dos pontos médios. Sabemos que se as diagonais de um quadrilátero se encontram no seu ponto médio, então este quadrilátero é um paralelogramo. Sabemos que é o ponto médio de (pela definição de simétrico). Se provarmos que também é ponto médio de , provaremos que é um paralelogramo e assim é paralelo a .

E como mostrar que é ponto médio de ? Basta mostrarmos que é um paralelogramo. Observe que e são bases médias dos triângulos e , respectivamente. Logo, e são paralelos a e, portanto, são paralelos entre si. Analogamente, é paralelo a . Desta forma, é um paralelogramo e é ponto médio de .

Assim,  é um paralelogramo, de onde segue que é paralelo a . Podemos concluir que a altura relativa a passa por . Analogamente, a altura relativa a também passa.

De maneira análoga, podemos provar que é o ponto de encontro das alturas relativas a e . Assim, podemos concluir o problema.

Exemplo (Cone Sul 2016)[]

Seja um triângulo inscrito em uma circunferência de centro . Sejam e pontos dos lados e respectivamente tais que . Seja o ponto de intersecção das bissetrizes dos ângulos e . Se , demonstrar que as retas e são perpendiculares.

Solução: Seja um ponto sobre tal que é perpendicular a . Se provarmos que pertence a reta , então será perpendicular a que é justamente o que queremos provar (só pra constar, como e são menores do que , segue que pertence ao interior do segmento ).

E como mostrar que uma reta passa pelo centro de uma circunferência? Basta provarmos que ela passa pelo ponto médio de uma corda e é perpendicular a ela. Considere e os pontos de encontro da reta com o circuncírculo do triângulo , de forma que está entre e e está entre e .

Como a reta é perpendicular a , para provarmos que ela passa pelo centro, basta verificarmos que é o ponto médio de , isto é, . Para isto, vamos extrair mais informações da figura.

Já que queremos usar informações sobre igualdades de segmentos e temos bissetrizes, vamos projetar . Ou seja, considere e pontos sobre e , respectivamente, tais que e são perpendiculares a e , respectivamente. Como pertence as bissetrizes de e , então e .

Vamos combinar isto com o fato de que . Observe que

e

Além disso, observe que é o exincetro do triângulo , de onde segue que é bissetriz de e assim .

Como podemos usar todas estas igualdades de segmentos para mostrarmos que ? Tomemos e os simétricos de e em relação a e , respectivamente. Quais as vantagens de fazermos isto? Primeiro, que teremos transferido as medidas e para cima dos lados do triângulo. De fato, as retas e contêm as bissetrizes dos ângulos e , respectivamente, ou seja, as retas e são simétricas em relação a e assim o simétrico de uma das retas pertence a outra. Em outras palavras, e pertencem a e , respectivamente.

E as medidas foram transferidas, afinal e . Vejamos alguma afirmação equivalente a . Se lembrarmos destas últimas igualdades e de , e ,

Ou seja, se provarmos esta última igualdade, podemos provar e isto resolverá o problema. Para isto, vamos extrair informações sobre a simetria. Como e , segue que é um trapézio isósceles. Se usarmos isto e o fato de e enxergam o arco ,

de onde segue que e são paralelos. Assim, pelo Teorema de Tales,

Se fizermosr um raciocínio análogo olhando para o ponto , concluiremos que é um trapézio isósceles e é paralelo a . Pelo Teorema de Tales,

Mas e . Assim

Se compararmos com ,

Como já vimos, isto prova o que faz com que nosso problema seja resolvido.

Exemplo (IMO 2009)[]

Seja um triângulo com . As bissetrizes dos ângulos e intersectam os lados e em e , respectivamente. Seja o incentro do triângulo . Suponha que . Determine todos os possíveis valores de .

Solução: Sim, sabemos que existe algo que fez você estranhar aqui: "possíveis valores". Como um problema de geometria nos dá mais de uma resposta para um ângulo? O que parece é que a configuração é única e que existe um valor só. Mas pode acontecer o seguinte: às vezes não sabemos onde um ponto fica e existe mais de uma possibilidade para ele. Daí podemos dividir em casos e obter mais de uma resposta. É o que vai acontecer aqui.

Observe que o enunciado nos deu as bissetrizes de e . Então parece natural considerarmos o incentro, que chamaremos de . E já que temos incentro, parece fazer sentido falarmos falarmos sobre o incírculo. E como temos ele, parece valer a pena falarmos sobre os pontos que ele toca no triângulo . Não parece ser importante, por enquanto, o ponto onde ele toca o lado , já que nem falamos sobre a bissetriz de .

Qual é o ponto onde o incírculo toca o lado ? Como o triângulo é isósceles, parece fazer sentido conjecturar que ele toca no meio, ou seja, no ponto (esse ponto está no meio de porque é isósceles de base e por isso a bissetriz também é uma mediana). Para vermos que isso realmente ocorre, é suficiente mostrarmos que é perpendicular a . Isso é verdade, pois , e são colineares e é perpendicular a .

E quanto ao ponto que o incírculo toca ? Vamos chamá-lo de . Pode ser que ele esteja no segmento , ou que ele coincida com , ou que ele esteja no segmento . Vamos analisar cada caso separadamente.

(i) coincide com

Como é o ponto de tangência, segue que é perpendicular a . Só que , e são colineares. Desta forma, é perpendicular a e, portanto, é bissetriz e altura. Desta forma, . Desta forma, o triângulo é equilátero.

Só que a pergunta que fica aqui é a seguinte: será que em triângulos equiláteros podemos ter a configuração do enunciado (ou seja, )? Repare que, nessas condições, coincidirá de fato com (com efeito, é perpendicular a , pois passa por e é bissetriz e altura ao mesmo tempo, e o mesmo vale para , pois é o ponto de tangência). Se queremos falar sobre , é interessante levarmos em conta as propriedades de . Como ele é o incentro de , vale a pena considerarmos o seu incírculo.

A questão é: tem que posição quando comparado a esse incírculo? É tangente? É secante? É externa? Uma boa figura com régua e compasso nos faz suspeitar que é tangente. Será que isso é verdade? Vamos descobrir mais coisas sobre a figura para responder isso. Como e são incentros de e , segue que e são bissetrizes de . Desta forma, , e são colineares (repare que isso vale para todos os casos, não só para triângulos equiláteros). Como contém o diâmetro, segue que a circunferência é simétrica em relação a ele. Além disso, observe que (de fato, e ) , de onde segue que e são simétricos em relação a . Como é tangente em relação ao incírculo de , o mesmo vale para . Seja o ponto de tangência (observe que isso é mais geral, pois em qualquer triângulo e , de onde segue que e são simétricas em relação a e podemos usar isso para mostrar que é tangente ao incírculo de e os ponto de tangência também será chamado de ).

Seja o ponto onde o incírculo de toca . Repare que . Desta forma, é um retângulo. Mais ainda (pois ambos são raios). Desta forma, é um quadrado (no caso mais geral, podemos usar o mesmo argumento para ver que é um quadrado). E qual a vantagem disso? Observe que é a diagonal do quadrado e desta forma . Desta forma, um dos possíveis valores de é .

(ii) está no segmento

Queremos falar sobre conhecendo . Podemos, de alguma forma, "aproximar" esses ângulos? Sim! Observe que (você pode saber mais sobre aqui). Ou seja, se calcularmos , conseguiremos o valor de . Quais valores podemos calcular para encontrarmos ? Um deles é . Outro é (afinal podemos usar o Teorema do Ângulo Externo no triângulo ). Mas como podemos usar que ? Lembre-se que vimos que é um quadrado. Desta forma, . As duas últimas igualdades nos dizem que é inscritível. Desta forma, . Se aplicarmos o Teorema do Ângulo Externo no triângulo , teremos

Se usarmos isso em ,

Mas será que se , podemos ter ?

Foquemos no triângulo (afinal ele contem ). Será que podemos calcular algum de seus ângulos? Observe que ele é um ângulo externo a e por isso vale a pena focar nele. Como é um triângulo isósceles, segue que . Assim . Pelo Teorema do Ângulo Externo,

.

Note que queremos mostrar que . Uma maneira é procurarmos uma simetria. Queremos mostrar que é isósceles de base . Triângulos isósceles são simétricos em relação a suas bissetrizes (ou medianas ou alturas). Um possível candidato a isso seria .

Observe que é bissetriz de . Desta forma, é simétrico a em relação a essa bissetriz. Mas podemos concluir que é simétrico a ? Uma maneira de vermos isso é mostrarmos que , ou seja, que o triângulo é isósceles. Já que temos várias informações sobre os ângulos, vamos calcular e e ver se eles são iguais.

Como , segue que (basta olharmos para o triângulo ). Além disso, (já que é bissetriz). Se olharmos para o triângulo , podemos concluir que . Desta forma, é simétrico a em relação à bissetriz de , enquanto é simétrico a ele mesmo. Assim é simétrico com relação a , de onde segue que . Com isso, também é um valor possível para .

(iii) está no segmento

De alguma forma precisamos falar sobre . Mas, por , é suficiente calcularmos . Vamos calcular alguns ângulos próximos. Observe que aqui ainda continua valendo que é inscritível. Além disso, note que . Se olharmos para o triângulo , teremos e assim . Ao voltarmos para , conseguiremos .

Assim, os possíveis valores para são e .

Lugares Para Estudar[]

Vídeos[]

Bibliografia[]

  • I.M. Yaglom : Geometric Transformations, Vol. I, MAA, 1962
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