Wiki Olimpédia
Advertisement

É uma generalização do Pequeno Teorema de Fermat .

O teorema diz que se , então

,

onde  é a função φ de Euler. Para que você possa ver que esta é uma generalização, basta fazer e lembrar que , se é primo.

Exemplo[]

Se e são números inteiros, prove que eles terminam com o mesmo dígito.

Solução: Em outras palavras, devemos provar que eles congruentes módulo . Considere . Então . Devemos provar então que

Vamos dividir em casos.

1º Caso: é primo com

Aqui temos uma vantagem: podemos usar o teorema de Euler-Fermat. De fato,

Assim

2º Caso: é múltiplo de

Neste caso, e , de onde segue que

3º Caso: é múltiplo de , mas não de

Então podemos escrever em que é primo com . Assim,

Essa última afirmação é verdadeira por causa do Pequeno Teorema de Fermat.

4º Caso: é múltiplo de , mas não de

Aqui com ímpar. Observe que

A última afirmação é verdadeira, pois ambos os lados da igualdade são congruentes a módulo (já que são ímpares).

Exemplo (OBM 2014 - 3ª Fase - Níveis 2 e 3)[]

Encontre todos os inteiros , , com a seguinte propriedade: para todo , , existe um múltiplo de cuja soma dos algarismos, na base decimal, deixa resto na divisão por .

Solução: Esse é um tipo de exercício em que vale muito a pena fazer casos pequenos para ter uma ideia melhor do que está acontecendo aqui.

(i)
Devemos mostrar que existe um múltiplo de cuja soma dos algarismos deixa resto na divisão por e outro cuja soma deixa resto . Existem vários números nessas condições. Mas a parte mais legal aqui é a seguinte: todo múltiplo de é também um múltiplo de . Daí todo número terminado em será múltiplo de , independente de quais algarismos aparecem antes. Por isso, conseguimos algo melhor ainda: conseguimos múltiplos de de forma que a soma dos algarismos seja qualquer uma quisermos.

(ii)

Sabemos que um número é múltiplo de se, e somente se, a soma dos seus algarismos também for. Desta forma, a soma dos algarismos de um número múltiplo de não pode ter resto e nem na divisão por . Ou seja, não satisfaz as condições do enunciado.

(iii)

Aqui temos uma vantagem parecida com o caso : todo múltiplo de é também um múltiplo de .Por isso, todo número terminado em é múltiplo de . Assim, sempre podemos encontrar números múltiplos de cuja soma dos algarismos vale o que quisermos. Em particular, sempre existem múltiplos de cuja soma dos algarismos deixa restos , , e na divisão por .

(iv)

Também satisfaz as condições do enunciado: basta usarmos as mesmas ideias que aplicamos no caso .

(v)

Todo múltiplo de é também um múltiplo de e assim a soma dos seus algarismos também será um múltiplo de . Assim a soma dos seus algarismos não poderá ser ou .

(vi)

Uma boa maneira de controlarmos a soma dos algarismos aqui é escolhermos múltiplos de que são formados apenas por algarismos e . Note que números formados por esses algarismos pode ser escrito como a soma de potências de . Se quisermos construir esses números pensando se eles são múltiplos de ou não, precisamos os restos das potências de na divisão por . Como , pelo teorema de Euler-Fermat,

Por isso, todo número da forma , para inteiro, possui resto na divisão por . Mas se controlarmos apenas essas potências de , todo número irá ter o mesmo resto que a soma dos algarismos na divisão por (afinal se for formado por algarismos , a soma dos algarismos será e o número será congruente a módulo ). Por isso, vale a pena outra potência de para nos ajudar. Vamos tomar potências da forma . Isso porque elas não são tão chatas de se calcular:

Vamos construir um número que seja múltiplo de e que a soma dos seus algarismos também seja. Suponha que seja formado pela soma de potências distintas de , onde delas são da forma e delas são da forma . Ou seja, ele é formado por algarismos iguais a . Então

.

Além disso, se denotarmos a soma dos algarismos dele por , podemos concluir que

Para que e sejam múltiplos de , precisamos que

Ao subtrairmos uma congruência da outra,

E por isso,

Ou seja, uma possibilidade seria tomarmos , isto é, potências distintas da forma e da forma e seria um número múltiplo de cuja soma dos algarismos também seja. Conseguimos usar essa mesma ideia para encontrar números que são múltiplos de cuja soma dos algarismos deixa resto na divisão por (para )? Sim! Só aqui teremos as congruências

Ao subtrairmos uma congruência da outra,

Observe que existe, pois .

(vii)

Aqui é parecido com o caso , afinal todo múltiplo de é também múltiplo de , ou seja, se o número terminar em , podemos colocar qualquer coisa nos seus algarismos, que o seu resultado será um múltiplo de .

(viii)

Aqui é parecido com o caso . Um número é múltiplo de se, e somente se, a soma dos seus algarismos também for. Ou seja, não conseguimos um número múltiplo de cuja soma dos algarismos deixe um resto diferente de zero na divisão por .

Esse é um belo caso em que casos pequenos nos ajudam a ter uma ideia. Parece que todo que não seja múltiplo de satisfaz as condições do enunciado. Veremos que isso é verdade. Mas primeiro, vamos começar mostrando que números múltiplos de não podem satisfazer as condições do enunciado. Vamos nos basear nos casos .

Suponha que seja múltiplo de . Vamos mostrar que ele não satisfaz as condições do enunciado, ou seja, existe algum entre e tal que não tem resto na divisão por (para todo inteiro). Considere tal que

.

Vejamos quais características pode ter. Observe que . Assim,

Mas (afinal e ), ou seja, (pois ). Desta forma, . Por isso, não pode ter um resto que não seja múltiplo de . Portanto, os valores de que são múltiplos de não satisfazem as condições do enunciado.

Resta mostrarmos que todo inteiro maior do que que não é divisível por satisfaz as condições do enunciado. Ao analisarmos os casos , vemos que as potências de e de são mais fáceis de se analisar. Por exemplo, se um número inteiro terminar com zeros, então ele será múltiplo de . Em particular, como , esse número será múltiplo de e de . Por isso, vale a pena separarmos as potências de e de do número.

Considere , onde é primo com e com . Observe também que é primo com , já que não é divisível por . Para mostrar que ele satisfaz as condições do enunciado, devemos construir um múltiplo de cuja soma dos algarismos deixa resto na divisão por (para ). Uma maneira interessante de mexer aqui é fazermos de modo parecido com o que fizemos no caso : usarmos apenas algarismos e para podermos controlar a soma dos algarismos, ou seja, potências de .

Observe que se todas as potências de forem maiores do que , então o número será múltiplo de e portanto múltiplo de . Da mesma forma, se todas as potências de forem maiores do que , então o número será múltiplo de . Desta forma, pegaremos potências maiores do que , pois assim o número será múltiplo de e se precisaremos nos preocupar com o número ser múltiplo de .

Precisamos controlar os restos da divisão das potências de por . Observe que, pelo teorema de Euler-Fermat, como ,

.

Desta forma, todo número da forma deixa resto na divisão por para inteiro positivo. Mas apenas esse tipo de número não é suficiente. De fato, se tivermos desses números somando, o resto da divisão do número por será e a soma dos algarismos também terá o mesmo resto. Vamos tomar números da forma já que podemos calcular seus restos. De fato,

.

Lembre-se que vale a pena tomar e maiores do que e para que o número seja múltiplo de . Se tivermos potências da forma e da forma , então o número será formado por algarismos iguais a . Assim a soma dos algarismos de será . Como queremos que ela tenha resto na divisão por ,

Além disso, como é formado pela soma de potências da forma e da forma , podemos dizer que

.

Mas queremos que seja múltiplo de . Por isso,

Para terminarmos o problema, basta mostrarmos que existem e inteiros que satisfaçam e . Vamos mexer um pouco com a conta, para vermos que eles existem. Se lembrarmos que e usarmos ,

Ao subtrairmos de ,

Observe que existe que satisfaça essa congruência. De fato, isso ocorre pois . Se tomarmos também inteiro tal que termos e que satisfazem e . Ou seja, todo que não é múltiplo de satisfaz as condições do enunciado.

Exemplo (Cone Sul 2008)[]

Dizemos que um número capícua se ao inverter a ordem de seus algarismos obtivermos o mesmo número. Achar todos os números que tem pelo menos um múltiplo não-nulo que seja capícua.

Solução: Uma boa maneira de começar esse problema é explorar alguns capícuas. Em algum momento, você pode parar em números da forma .

Aqui as coisas ficam interessantes, pois se , então, pelo Teorema de Euler,

Ou seja, para estes valores específicos de , teremos um capícua que é múltiplo de .

Outro caso interessante também: se é múltiplo de , então terminar em zero e por isso não pode ser capícua: ao invertermos ele, teremos um número de menos algarismos.

Vejamos outros dois casos específicos: quando ou para algum natural . Considere aqui o número formado pelos algarismos de invertidos. Para suficientemente grande, o número é capícua e múltiplo de .

Com efeito, se for maior que a quantidade algarismos de e , então

ou seja, ele é um número capícua. Além disso, se , então é múltiplo de . Pois nos casos em que e ocorre que . Logo, nestes dois casos, possui um múltiplo capícua.

Resta um caso ainda: quando é diferente de e possui algum fator diferente de e de .

Aqui poderemos escrever , onde ou e é um inteiro tal que .

Podemos até pegar . Neste caso, se for maior do que a quantidade de algarismos de , então este número é capícua e múltiplo de . Mas ele não é múltiplo de . Precisamos "consertar" isto.

Aqui é a vez de entrar novamente o teorema de Euler. Pegaremos o número , mas com de tal forma que possui uma quantidade de algarismos múltiplo de , isto é, para algum inteiro. E por que isto? Para usarmos o teorema de Euler. Mas quem garante que este exista? Se tiver algarismos, basta tomarmos .

Observe aqui então que

Desta forma, é capícua e múltiplo de .

Portanto, os números que satisfazem as condições do enunciado são aqueles que não são divisíveis por .

Exemplo[]

Prove que o inverso modular de módulo é

(Observação: Você pode saber mais sobre inverso modular aqui.)

Solução: Seja o inverso modular de módulo . Então

.

Já que queremos falar sobre , seria legal se tivéssemos algo da forma

Ou seja, é interessante que o número que o que aparece no lado esquerdo da congruência suma. Seria legal multiplicar ele por algo e o resultado ser congruente a módulo . Conhecemos algum múltiplo de que seja congruente a módulo ? Sim, pelo teorema de Euler-Fermat, e é múltiplo de . Desta forma, podemos fazer ele aparecer multiplicando ambos os lados da igualdade por :

Mas é um número tal que . Assim, é o resto da divisão de por e com isso

Exemplo (IMO 2004)[]

Chamamos um inteiro positivo de alternante se quaisquer dígitos positivos na sua representação decimal possuem paridades diferentes.

Encontre todos os inteiros positivos tais que possui um múltiplo que é alternante.

Solução: Observe que se for um múltiplo de , todo múltiplo de também será múltiplo de e assim seu último algarismo será zero e o penúltimo será par, ou seja, teremos dois algarismos pares consecutivos e ele não pode ser alternante. Desta forma, nenhum número múltiplo de poderá satisfazer as condições do enunciado.

E quanto aos outros casos? Vale a pena começarmos com exemplo de alternantes que não sejam tão grandes assim. Talvez vale a pena olhar para

Queremos controlar os restos da divisão de na divisão por . Uma maneira de fazermos isso é pelo teorema de Euler-Fermat. Mas só podemos usar ele quando . Por isso, vamos dividir em casos.

1º Caso:

Observe que

Como essa é a soma de números de uma progressão geométrica de termos e razão , segue que ela é igual a

Queremos escolher um tal que esse número seja múltiplo de . Observe que se, e somente se, . Queremos analisar módulo . E queremos que tenha resto quando dividido por . Como , segue que

Por isso, podemos escolher e assim, para , teremos um número alternante e múltiplo de .

E quais os outros casos que podemos analisar? Os casos em que não seja múltiplo de , mas que tenha um fator ou . Por isso, para sabermos melhor qual caso analisar, considere com . Não podemos ter ao mesmo tempo e pois aí teríamos múltiplo de . Desta forma, analisamos separadamente: quando e quando . Comecemos com o caso em que . Nele devemos ter (já no terceiro caso deveremos ter e , em outras palavras, ).

2º Caso: com e

Vamos fazer uns planos antes de sair fazendo as contas. Se conseguirmos mostrar que coisas da forma

são múltiplos de para algum valor de (argumentos parecidos com o caso anterior parecem funcionar), precisaríamos a partir daí encontrar um múltiplo de alternante de dígitos pois aí

Se for ímpar, alternante e múltiplo de , teremos um alternante múltiplo de . Para termos um múltiplo de , basta acrescentarmos o zero no final.

Feito o plano, hora de colocar na prática. Já que o número

parece importante, vamos dar um nome para ele: . Será que esses números são múltiplos de para algum valor de ? Observe que

Como essa última é uma progressão geométrica de termos e razão , segue que

Por isso escolhemos blocos de zeros antes (se houvéssemos escolhido blocos de zero, teríamos no expoente). Repare que se, e somente se, . Conseguimos alguma congruência da forma ? Sim: pelo teorema de Euler-Fermat:

Por isso, basta tomarmos que aí teremos múltiplo de .

E quanto a tomarmos um alternante múltiplo de ? Para todo inteiro positivo, vamos procurar inteiros de dígitos tais que seja divisível por .

Para , basta tomarmos . E quanto a ? Ou seja, devemos procurar um número de dois algarismos que seja divisível por . Por mais que você saiba quais são os múltiplos de de dois algarismos (, e ) e daí poderíamos escolhermos os alternantes, vejamos uma maneira de obtermos a partir de (afinal se conseguirmos uma boa maneira de obter a partir de conseguiremos usar indução).

Observe que em dois dos casos, podemos colocar um algarismo à esquerda e obtermos um número de (e se notarmos que um múltiplo de , veremos que para obtermos também bastaria colocarmos o à esquerda). Por é válido suspeitar: e se colocarmos um algarismo à esquerda de ? Observe que colocar um algarismo à esquerda de equivale a tomar .

Queremos que esse último número seja múltiplo de , ou seja, . Por sorte, e já são múltiplos de e isso pode facilitar nosso trabalho. De fato, se lembrarmos que é inteiro, podemos escrever a nossa divisibilidade como sendo

Precisamos apenas que

Como , existe um número que satisfaz essas condições. De fato, como e são primos entre si, segue que possui inverso modular e assim podemos multiplicar ambos os lados da igualdade por e assim

Ou seja, existe algum número dentre que podemos colocar à direita de e fazer com que ele seja múltiplo de . Mais ainda, se funciona para , também funciona para , já que . Assim podemos colocar algum número dentre à direita de e obter outro número múltiplo de . Mas repare que também devemos construir um número alternante. E agora? Será que podemos controlar as paridades? Repare que e possuem paridades diferentes. Desta forma, basta tomarmos o que faz o número ficar alternante.

Vamos usar essas ideias para mostrar por indução que para todo inteiro positivo, existe um número de algarismos que é divisível por . Já fizemos o caso . Suponha agora que existe um número de dígitos que seja múltiplo de . Para construirmos um número de algarismos múltiplo de , vamos colocar ou à esquerda do número, ou seja, tomar e . Será que para algum os dois números serão múltiplos de . Vejamos como fazer o primeiro número ser múltiplo. Observe que, como é um número inteiro,

Existe algum nesta condição? Como é inverso modular de módulo , podemos multiplicar ambos os lados da igualdade por e assim

Ou seja, existe que faz com que seja múltiplo de . Esse mesmo valor valor de fará com que também seja? Observe que esse número pode ser escrito . Como é múltiplo de e também (já que ), segue que também será múltiplo de . Como e possuem paridades diferentes, basta escolhermos aquele que faça com que seja alternante. Em particular é ímpar.

Observe que e , de onde segue que . Mas será que é alternante? Observe que

Para esse número ser alternante, precisamos que o primeiro e o último dígito de possuam paridades distintas. Mas isso só ocorre quando ele possui uma quantidade par de dígitos. Para evitarmos passar por isso, tomemos . Aqui . E para fazermos o fator aparecer? Para isso, coloquemos o zero no final. Assim o número irá satisfazer as condições deste caso.

3º Caso: com e

Já que temos algo parecido para se mostrar, que tal usarmos uma ideia parecida. Para algum valor é legal pegarmos com tendo algarismos e sendo dividido por . Para pegarmos esse número alternante, podemos prestar atenção apenas em que possuem uma quantidade par de algarismos (em que o último algarismo seja par e o primeiro seja ímpar).

Vamos começar com um número com algarismos alternante. Podemos pegar . Observe que Já que queremos com quatro algarismos, para os expoentes não ficarem tão para trás, vamos pegar de forma que seja divisível por um expoente que tenha duas unidades a mais do que o anterior. Vamos colocar um número à esquerda de , isto é, tomemos o número . Será que com alguma condição, conseguiremos aumentar o expoente em duas unidades, ou seja, ? Aqui, se lembrarmos que é inteiro, podemos reescrever essa divisibilidade como

Para os candidatos para , devemos pegar números que sejam pares, alternantes, que as suas metades tenham todos os restos possíveis na divisão por e que o algarismo das dezenas seja ímpar. Candidatos interessantes são .

Em geral, vamos mostrar que existe um número alternante de dígitos que seja divisível por . O caso já está resolvido.

Suponha que tenhamos um número de dígitos e que seja divisível por . Vamos construir a partir desse um número com algarismos que seja divisível por . Conforme vimos no caso , vale a pena para algum dentre tomarmos (que equivale a colocar o número à esquerda de ). Só precisamos que para algum valor de seja possível que . Se lembrarmos que é inteiro e o mesmo vale para , podemos reescrever isso como

Como pode assumir qualquer resto possível na divisão por , existe de algarismos divisível por .

Portanto, para resolvermos este caso, basta tomarmos o número . Com efeito, e , de onde segue que .

Com isso, os inteiros positivos tais que possui um múltiplo que é alternante são todos os números que não múltiplos de .

Curiosidade[]

Existe uma generalização do teorema de Euler que é chamada de teorema de Carmichael. Você não precisa disso para resolver problemas, mas é legal conhecer. Vamos definir como sendo o menor inteiro positivo tal que para todo inteiro primo com . A função é chamada de função de Carmichael.

O teorema de Carmichael diz que

Podemos calcular no caso geral? Sim: se são primos distintos e são inteiros positivos, então

Lugares Para Estudar[]

Vídeos[]

Advertisement